Os trailers prometiam muito. Todos eles.
O Logan velho, trêmulo, manquitola e enfraquecido, o Professor X mais para lá do que para cá (e surtando com consequências mortais!) e a X-23, suposto clone feminino e infantil do Wolverine, sem os pudores e freios morais que o canadense adquiriu ao longo dos anos, o que significa carnificina para todo lado.
Também havia um Pierce com partes biônicas aparentes, ao contrário do que acontecia nos quadrinhos, onde ele era bem mais discreto. E havia também uma milícia sedenta de sangue e partes biônicas.
Estava armado o circo para a saída de cena em grande estilo do Hugh Jackman.
E, na hora em que a projeção começou, as expectativas foram satisfeitas. Todas elas.
A luta inicial, por exemplo, longe de ser dinâmica, é decadente e demorada, ao menos para os padrões do Wolvie. As garras não saem direito dos punhos do Logan, os adversários batem com vontade na cara e no corpo dele e só depois de um costumeiro acesso de fúria é que ele consegue derrotar os caras, não sem antes apanhar mais um pouco e levar mais uns tiros.
Aliás, nada mais emblemático da decadência do Logan do que os ferimentos não se curarem.
Apesar de não ser crítico ou mesmo estudioso de cinema, é evidente que o filme prefere carregar no drama, físico e psicológico, ao invés de usar a velha fórmula da pancadaria. Doi mais olhar para as expressões marcadas e amarguradas do Logan, do Caliban e do Professor X do que vê-los apanhar e, eventualmente, morrer. Doi demais, aliás.
O filme passa bem longe da fórmula tradicional do herói e mostra o conflito entre a realidade e o desejo por redenção e por paz. O Logan segue sendo o Logan, mas praticamente sem fé e vivendo um dia de cada vez. Toda a esperança de melhora se resume ao Professor X, ao menos enquanto ele vive. Depois da sua morte nas mãos do clone do Wolvie, o tal X-24 mostrado anteriormente, o abismo chega com muita rapidez.
Tudo é desespero a partir daí, do sacrifício do Caliban, como redenção para ele mesmo e como chance de sobrevivência para o Logan e a Laura, até a intervenção do pai da família morta pelo X-24, evitando a derrota e provável morte do Logan. Nada sobrevive, nem a esperança.
O que vem depois me lembra uma descida pelos círculos do Inferno: o extremamente emocional enterro do Xavier; a busca do Éden como única esperança do Logan (mesmo que ele não acreditasse que ela existia além do gibi da Laura – meta-linguagem em alto estilo); uma viagem de mais de 1500 quilômetros em busca da salvação (contando apenas o trecho entre Oklahoma City e Dakota do Norte) ou da morte, no caso do processo em que Logan parece estar afundado; a foto da Laura com as outras crianças mutantes servindo de ruína para toda a segurança que eles achavam ter encontrado por que tinha as coordenadas do lugar onde eles se refugiavam.
A luta final entre o Wolvie e o X-24, com participação mais do que especial das crianças mutantes colegas da Laura no projeto, foi sensacional. Bala, garra e morte para todo lado.
A morte do Pierce foi especialmente linda, com todas as crianças em cima dele se vingando de todos os maus tratos recebidos no passo. Aqui se faz, aqui se paga, ciborgue.
E a salvação veio, vejam só, com o adamantium. Ou melhor, com a bala de adamantium que o Wolverine reservava para acabar com a própria vida e que acabou na cabeça do X-24. O detalhe da cena é que a Laura atirou bem para cacete e mandou os miolos do X-24 para tudo quanto é lugar.
O que vem a seguir é a óbvia e tocante cena da morte do Logan, a redenção que ele parecia querer há tempos e a repetição do discurso de despedida do Shane que a Laura havia visto no filme que assistiu junto com o Xavier. Óbvio, como eu disse e tocante, como você deve imaginar.
A parte da Laura mudar a posição da cruz e formar um X me deixou meio confuso e até agora não sei bem o que pensar.
Em suma, um filmaço com mais carga emocional do que quase tudo que se fez até o momento com os heróis da Marvel e da DC!
Vá em paz Hugh Jackman! Seu legado como o meu mutante preferido vai ficar para sempre e tenho pena do próximo ator que encarnar o Wolverine! Se é que vai haver alguém!
PS 1 – Reparem no boneco que está nas mãos do menino negro na cena do enterro do Wolvie!
PS 2 – Qualquer trilha sonora que inclua Johnny Cash já é sinal de que o filme vai valer a pena!
PS 3 – Algumas perguntas que muito provavelmente seguiram a inspiração do seriado Lost e foram deixadas no ar de propósito (ou fui eu que não prestei atenção): Onde estão os outros X-Men? Eles morreram mesmo no incidente de Westchester? O que realmente aconteceu em Westchester, provável primeiro grande e fatal surto do Professor X? Éden foi uma criação das crianças mutantes fugitivas com base no gibi dos X-Men ou é um lugar que sempre serviu de refúgio para os mutantes? O que os caras quiseram dizer ao dar o nome de Rictor ao líder das crianças mutantes? Seria um indício de que vem Novos Mutantes ou X-Force por aí? E, finalmente, quem está esperando as crianças no Canadá?