Punho de Ferro: o heroi precisa de terapia (alerta de spoiler)

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Assisti ao seriado meio que contaminado pelas críticas ruins e pela sentença de que este seria o elo mais fraco entre os seriados da Netflix envolendo os herois que formarão os Defensores.
Mesmo assim, me esforcei para absorver tudo o que os capítulos mostraram e para entender as mudanças necessárias para a melhor adaptação ao formato.

Acabou não sendo uma tarefa fácil.

Para começar, vale a pena falar sobre uma das principais diferenças que vi com relação à história em quadrinhos: Danny Rand volta para Nova Iorque depois de passar 15 anos em Kun Lun sem saber quem é o responsável pela morte dos pais. Diferente do que acontece nos gibis, onde todo mundo sabe, inclusive o Danny, que o Harold Meachum é o assassino, na série, a Madame Gao, uma líder do Tentáculo que foi apresentada na primeira temporada da série Demolidor, é inicialmente apontada como assassina, mas posteriormente é revelado que o Harold foi mesmo o responsável.

Uma volta meio longa para chegar ao mesmo lugar, mas tudo bem.

Se a minha memória não falha, o único Meachum com quem o Danny teve que lidar nos quadrinhos foi a Joy, filha do Harold, mas o seriado nos trouxe o Ward, o filho mais velho, com uma ganância e frieza fora do comum, ao menos nos primeiros capítulos. O primogênito dos Meachum era o único que sabia da morte forjada do Harold e era o elo de ligação do patriarca com o mundo exterior. Não sem sofrer com a crueldade do pai, algo que parece tê-lo assombrado por toda a vida e que acaba desencadeando uma explosão em violência e morte.

Um dos pontos positivos do seriado me parece ser a exploração dos traumas psicológicos do Danny, algo que hoje parece muito natural em alguém que perdeu os pais de forma trágica na infância, mas que foi meio ignorado nos quadrinhos. Ver esse trauma paralizando o Punho de Ferro em mais de uma ocasião é interessante e o aproxima da humanidade que o poder de Shu Lao não tirou dele.

Outro aspecto dessa humanidade é o relacionamento do Danny com um sem teto no Central Park. Eles se reconhecem como párias e acabam se apoiando, ao menos até o sem teto morrer de overdose.

A presença do Tentáculo e da Madame Gao, que apareceu no seriado Demolidor, merecem uma atenção especial, principalmente por que ligam os seriados da Netflix e meio que preparam o terreno para o seriado dos Defensores, que está para estrear. Inicialmente, o Tentáculo aparece exatamente como mostrado em Demolidor: uma grupo de ninjas hardcore que podem ser ressuscitados e que não poupam ninguém. Mas depois de alguns capítulos aparece outra facção da organização, chefiada pelo Bakuto, que se revela um dos mestres da Colleen Wing, de quem falaremos daqui a pouco.

O relacionamento do Tentáculo com o Harold Meachum é mostrado na forma de chantagem, controle e jogo de poder: vítima de um câncer, o Harold recebe a oferta de cura em troca de atuar a favor dos interesses da organização, o que ele faz de forma bem eficiente até ver no Punho de Ferro uma forma de se livrar da opressão e das ameaças.

Sobre a cura, o Tentáculo parece ter usado o mesmo processo usado no Nobu (novamente do seriado Demolidor) e nos ninjas ressuscitados: o indivíduo morre e volta, mas não sem pagar um preço de violência e agressividade.

Um personagem interessante é Davos, o filho de Li Kung, em um conflito permanente entre a mágoa, a lealdade e a amizade. Nos quadrinhos ele havia tentado enfrentar o dragão Shu Lao no desafio do Punho de Ferro, mas falhou, gerando uma tatuagem incompleta no peito (dragão sem as asas). Depois de ajudar bastante o Danny na luta contra o Tentáculo, a mágoa e as decisões do Punho de Ferro acabam fazendo com que ele vire as costas para o amigo e se transforme em uma incógnita.

Achei o final meio esdrúxulo, com o Ward ficando bom (possivelmente devido ao trauma da experiência com as drogas e à libertação da presença opressora do pai) e a Joy virando inimiga, com o patrocínio velado da Madame Gao e a oferta de aliança do Davos. Não sei se em uma eventual segunda temporada ou se na série dos Defensores, mas o Danny deve enfrentar sérios problemas com pessoas a quem ele amava no passado.

Para finalizar, vamos falar um pouco da Colleen Wing, ao mesmo tempo interesse romântico e grande aliada do Punho de Ferro no combate aos inimigos. Em certa parte do seriado é revelado que ela faz parte da facção do Tentáculo chefiada pelo Bakuto, o que a coloca ao mesmo tempo como inimiga da Madame Gao e o Danny Rand. Isso acaba sendo difícil de contornar, mas o óbvio acontece e a Colleen acaba deixando boa parte da sua vida para trás e escolhe apoiar o heroi. Algo de amor em um seriado cheio de mortes e violência.

Ah, tem também a exploração dos demônios internos da Colleen nas cenas em que ela frequenta uma arena clandestina de lutas, onde apanha bastante e bate mais ainda, tudo em troca do dinheiro de que ela tanto precisa para manter a sua escola de artes marciais para jovens da comunidade. Objetivo nobre atingido através de violência extrema, o que é, no mínimo, contraditório.

O meu parecer final é que o seriado merece mesmo as críticas (heroi fraco e coadjuvantes mal aproveitados), mas fica muito longe de ser uma perda de tempo, mesmo para quem adorava as histórias em quadrinhos do personagem, o que não era bem o meu caso.

O próximo passo da Netflix é mostrar os quatro herois das ruas de Nova Iorque trabalhando (e brigando) juntos, mas sobre isso falaremos mais para frente. Ah, e sempre contando com a Claire, a enfermeira que apareceu pela primeira vez na primeira temporada de O Demolidor e que se transformou no grande elo de ligação entre todos os herois.

Viva a Claire!

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